Aclamado por sua sensibilidade e profundidade, Vidas Passadas (Past Lives), de Celine Song, é muito mais do que um simples romance. O filme, que trata de amor, destino e conexões que atravessam o tempo, nasceu de um momento real vivido pela diretora — um encontro casual que a fez refletir sobre os caminhos que escolhemos (e os que deixamos para trás).
Uma noite, três pessoas e um sentimento inexplicável
Celine Song nunca imaginou que uma simples noite em um bar se tornaria o ponto de partida para seu primeiro longa-metragem. Em entrevista, ela contou que a ideia para Vidas Passadas surgiu quando se viu entre duas figuras importantes de sua vida: seu marido e um amor de infância.
“Eu olhava ao redor e via como as pessoas tentavam entender quem éramos uns para os outros. E minha primeira reação foi: ‘Vocês gostariam de saber, não é? Mas vocês não fazem ideia.’”
Esse momento, carregado de significados, a fez questionar o passado e imaginar as histórias que poderiam ter sido escritas de forma diferente. O impacto foi tão profundo que ela decidiu transformar essa sensação em roteiro.
Ficção ou realidade?
Embora tenha sido inspirado em sua experiência, Vidas Passadas não é um retrato fiel dos acontecimentos. Segundo Song, a relação com seu amigo de infância sempre foi platônica, mas, para o filme, ela quis explorar uma abordagem mais romântica.
“Entre mim e meu amigo de infância, não foi romântico. Foi totalmente platônico. Mas eu queria que o filme fosse romântico, então houve uma espécie de romantização.”
A cena de abertura do filme, em que Nora (Greta Lee) está sentada ao lado de Arthur (John Magaro) e Hae Sung (Teo Yoo), é praticamente uma reprodução do que aconteceu na vida real. A diferença é que, no longa, essa história ganha um tom mais cinematográfico e sentimental.
Mesmo com adaptações na narrativa, Vidas Passadas carrega traços pessoais de Celine Song, que, assim como Nora, nasceu na Coreia do Sul, mudou-se para o Canadá ainda criança, seguiu carreira nos Estados Unidos como dramaturga e roteirista e se casou com um artista americano—elementos que tornam a história ainda mais íntima, embora a diretora enfatize que os personagens foram transformados para se encaixarem na ficção.
O verdadeiro significado de Vidas Passadas
Mais do que um triângulo amoroso, o filme explora a forma como o tempo molda nossas relações e o impacto que algumas pessoas deixam em nossas vidas. A trama se baseia no conceito coreano de Inyeon, que sugere que certos laços se fortalecem ao longo de várias vidas.
Hae Sung, em determinado momento, traduz esse sentimento ao questionar:
“Hae Sung se pergunta se essa vida que estamos vivendo agora já é um passado. Porque ele sente que está apenas uma camada de distância de uma vida de felicidade ao lado de Nora.”
No fim, Vidas Passadas não fala apenas do que foi ou do que poderia ter sido, mas também do que ainda pode vir a ser. E talvez seja essa a grande beleza da história: nos lembrar que somos todas as vidas que já vivemos.
