Morre Preta Gil, aos 50 anos, durante batalha contra câncer

Preta Gil (Foto: Reprodução)

A noite deste domingo (20) terminou com uma daquelas notícias que a gente não quer receber. Preta Gil faleceu aos 50 anos, após lutar contra um câncer descoberto no começo de 2023. A confirmação veio pelas redes sociais, direto da família e equipe da artista. O impacto é grande — não só pela perda de uma figura marcante, mas pela maneira como Preta viveu e dividiu com o público os últimos capítulos da sua história.

Ela estava em tratamento nos Estados Unidos e, em dezembro do ano passado, passou por uma cirurgia que durou mais de 20 horas. Parecia estar reagindo bem. Mas, em 2024, o câncer voltou com força. Mesmo assim, Preta continuou fazendo o que sempre fez: falando abertamente, sem tabu, com coragem. Com a mesma franqueza que usava pra defender corpos livres e afetos diversos, ela falava da colostomia, das dores, dos dias bons e ruins. E isso fez dela um símbolo ainda maior.

Preta deixa um filho, Francisco Gil, e uma legião de fãs que cresceram com sua música e com a sua luta.

Filha de Gil, mas sempre dona da própria voz

Preta nasceu no Rio, em 1974, e não dava pra fugir do universo artístico. Filha de Gilberto Gil, afilhada de Caetano Veloso e Maria Bethânia, cresceu no meio de ensaios, shows e rodas de conversa. Mas ela nunca se escondeu atrás de sobrenome. Preta foi “a Preta” desde sempre — irreverente, política, debochada e cheia de presença.

Em 2003, lançou seu primeiro álbum, Pret-a-Porter, e cravou seu nome na música brasileira misturando MPB, pop, axé e um jeitão só dela. Músicas como “Sinais de Fogo” e “Só o Amor” viraram hinos — mas ela nunca foi só trilha sonora: foi voz de causa, corpo que se impunha num mundo que tenta apagar quem foge do padrão.

No ano passado, lançou uma autobiografia pra celebrar seus 50 anos. E ali, entre histórias de bastidores e reflexões sobre a vida, compartilhou um dos momentos mais emocionantes da relação com o pai. Numa internação delicada, ouviu dele:

“Se estiver sendo muito difícil pra você, e se for sua hora, aceite. Se estiver muito pesado, vai. Se deixa ir.”

Foi um choque — mas também foi um empurrão pra seguir firme. E ela seguiu.

Uma luta pública, dura e sem romantismo

O diagnóstico veio no início de 2023, no meio de uma turnê com Gilberto Gil. Preta passou mal em dois shows na Europa e, pouco depois, recebeu a notícia: câncer no intestino. A primeira cirurgia veio em agosto, com 14 horas de duração. Retirou o útero, o reto e parte do intestino. Em dezembro, chegou a anunciar alta médica. Havia esperança.

Mas o câncer voltou. Em 2024, novos exames detectaram a presença de tumores na pelve. Ela voltou a se tratar, enfrentou novas sessões de quimio e passou a usar uma bolsa de colostomia definitiva. E fez questão de falar disso tudo — com realismo, dor e até humor. Preta nunca foi de esconder a realidade, por mais dura que fosse.

“Eu amputei o reto e não posso ter vergonha, porque é a minha realidade.”

Essa era a Preta. Escancarada. Honesta. Generosa com quem acompanhava a jornada.

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